domingo, 16 de outubro de 2011

Estudos Teóricos da Literatura.

Andando pelos corredores do prédio de dança na faculdade, quando exercia um simples passeio pelas áreas verdes, encontrei-me com um conhecido-moço. Ele vinha de lá, e eu de cá. Quando de distância fomos nos aproximando... eis que surgiu uma tal cumprimentação.

- Eae rapá!

- Opa!  
Eu respondi.

- O que faz por aqui ?
Eu respondi dizendo que apenas estava vagando pela áreas verdes da faculdade.
O conhecido-moço então retruca:

- Não. Eu me refiro ao curso que você faz... qual é o curso mesmo ?

- Aah sim, (rs) eu faço medicina!

- Ouxe, eu pensei que você fizesse Letras! É o que eu achava, sabe ?

Então novamente, lhe respondi:

- Ah, é a mesma coisa!

O conhecido-moço logo mudou a aparência, ficou com uma feição de estranhamento, ainda assim com um ar de "ele deve está tirando sarro da minha cara", e então empurra-me mais palavras oratórias:

- Você ta louco!

- As palavras não nos curam mas servem de remédio pra doença de ser poeta.  Assim eu disse. Fui mais longe um pouco:
- Pena que não estou gostando do meu curso, acho que irei imigrar para a área de engenharia.

Me dando muita corda ...ele me pergunta:

- Hum, não sei não. Mas é um bom curso. Depende mesmo do tipo de engenharia que você faça... já sabe qual ?

- Engenharia da Literatura. Gosto de construir escritórios verbais.

Não sabia como ele aturava esse papo, às vezes parecia até que estava gostando... e em consecutivas vezes ele continuava a prosear comigo

- Eu não sei se alimento esse papo mas, ... me sinto curioso em saber sobre o que se passa em sua cabeça; como assim escritórios verbais ?

- (respiro...). Bom, a palavra "Escritório" significa : escrita de gente torta.

- Donde tu viu isso ?

- Dicionário Carmiano.

- Nunca ouvi falar! Você pesquisa afundo isso aí ? Tipo, esses negócios de medicina ser igual a letras, do tal  da Engenharia da Literatura, construir escritórios verbais ... ou é só invenção sua mesmo ?

- Conhecido-moço,... como já dizia o poeta que agora está em sua terceira infância... "Tudo que não invento é falso" assim como ele diz também, "Noventa por cento... é invenção.Só dez por cento é mentira"
Isto é a minha literatura, o bom autor, é aquele que não tem obras literárias, mas sim aquele que tem literaturas ao modo que a mesma por si só esteja engendrada em sua vida. Quem faz a obra é o petiz de meios versos numa das piores construções agramaticais na ínfima ausência de cimentos...

O conhecido-moço quase enfia a cabeça no lixo, quase resolve me dar um tiro, quase chama a ambulância pra que os médicos venham a cuidar de mim. Indignado ficou!

- Ma ma... ma... , não é possível, mas  você, ...você é louco mesmo. Como pode isso ?

- Ô meu querido, assim como tu inciou esta prosa, irei copiar o que fizeste comigo e logo farei o mesmo com você... Então,... qual curso que você faz ?

Passando as mãos em barba,...  ajeita o óculos, joga fora o cigarro no qual lhe relaxava a cada tragada que dava quando ouvia uma resposta minha, e academicamente, com um ar de que vai dar uma volta por cima, me responde :

- Eu exerço em meu tempo integral o verbo "estar" ao invés do "ser", e pelas manhãs, eu estou    aluno de filosofia. Estudo filosofia a fundo, sempre procuro tentar entender as circunstância, as coisas que estão contidas no mundo. Mas você é um caso intentável. (Todo ar de desistência é possível ser palpado nesta sua última sentença afirmativa).

Ele continua...

- Você fala dessas coisas aí que eu não entendo nada,  e então eu fico imaginando o que será da sua vida quando for ler algo do tipo: A poética de Aristóteles, livro obrigatório do teu curso - se é que você faz letras mesmo, nem sei se você existe mesmo, nem sei mais se estou conversando com você ou se sou eu que estou ficando biruto- Enfim, nunca toque nesse negócio, tu vai bater as botas de vez menino.

Sem precisar raciocinar muito para dar uma resposta que lhe valha o momento:

- Ah sim, Aristóteles. Ele fazia B.I.

Extremamente enraivado... retruca:

- B.I. ? Você está afirmando que Aristóteles se formou fazendo Bacharelado Interdisciplinar ???? Você não tem pensa menino. Isso não existia naquela época não !

Colocando os livros embaixo do braço, ... ele ajeita a gola da camisa, limpa a garganta com um suave pigarro,pega o celular como quem vai ver as horas e ver quanto tempo "perdeu" falando comigo, atua um cuspe no chão, e ... último insulto:

- Tolo !

- Apois... Eu disse.





Matheus Carmo

3 comentários:

  1. Amei... de volta ao surgimento da loucura.
    Gosto disso... Nunca esqueço um almoço que tive ao lado de um mendigo na praia do forte. Paguei pra ele almoçar comigo.... Foi hilário... Ele me dizendo que era irmão de Raul Seixas...

    Um dia, escreverei sobre essa experiência no meu blog... Antes irmão de Raul Seixas do que Jesus Cristo, porque aí... Eu não poderia ter bebido umas duas com ele... aehiuaehoiuaehaeiuohaeoiuehiuaeh

    Não tinha vinho...

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  2. Amei!

    Nem ele nem ninguém que tenha para você ratoeiras entenderá essa maconha dura...
    Já curto pacas, e sei que tenho muitas roídas suas a conferir, moço Lindo...


    Esse "Tolo" final nem comento... Me da cólicas no córtex cerebral da minha batata da perna...

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  3. É trabalhoso viajar pelos seus escritos devido ao pouco tempo que tenho, mas é sempre engraçado
    ,visto que não posso passar aqui rapidamente, como quem espera um ônibus e vai embora, minha espera é na tua greve.
    "Tudo o que não invento é falso", eis então algo verdadeiro, original. Eu vi nesse estudo teórico um convite a brincar,
    creio que seu colega não compartilhava o mesmo gosto que você, o gosto de poetar, hahaha.

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