domingo, 16 de outubro de 2011

Um desestudo sobre a Coisa e o Coisar.






O ideal pra palavra, é que ela se escreva menos. Então eu me escrevi menos. Não se pode construir um verso sobre o próprio verso, isto é ato de rascunhar.

Escrevo à caneta. Caneta à escreve.

Não sei a diferença entre mim poema.
Não sei se me tenho poesia ou se me tenho poeta, às vezes... coisa.
A coisa não deve ser vista pra se delirar.
Uma coisa não analisa outra coisa, consequência é coisar.
Poemas não podem ser lidos sem ritmos, (1)os poemas estão cansados de serem vistos por leituras razoáveis.
Dai criei poema meio coisa. Que é pra dar doçura ao amargo dos olhares. Vírgula, é a colher de mexer. A vírgula também está cansada de ficar parada palavra entre outra.
Assim ó:

"Estávamos sentados na calçada da esquina, João, Marcos e eu."

Bem fácil ler a frase acima. Fácil de ler, ritmizar, entender, analisar, vezes chorar, e discutir sobre essas coisas úteis. Mas utilidade precisa chegar ao preço de inutileza para se recriar engendrando a coisa, que por si deve-se resultar em coisar. A palavra é falha, no amor e nessas horas, não há palavra que explique o "coisar", essas coisas servem para tocar o leitor de uma maneira profunda, para que se crie percepção sobre a coisa, para que se crie caráter científico sobre a coisa, para que se crie o AMAIS sobre a coisa, para que possa definir a coisa quando for explicada em sala de aula, para que isso se permita a ganhar forma, sentido, imagem, brilho, codificação. Diante do sujeito pesquisador, o raciocínio deve ater-se a Teoria do Conhecimento (Johanes Hessen), a teoria dos signos e/ou Curso de Linguística Geral (Ferdinand de Saussure), da sonoridade, da consistência formal e gráfica, - que é o caso da letra que já tem estas características citadas - a letra é o princípios mínimo do som, que junto a uma outra letra exercente do código verbal do português, obterá, significados, significante, e há mais um outro princípio americano, ao qual eu digo: rio . E você tem a capacidade de imaginar o rio, e eu digo: rio perene. E mesmo não tendo conhecimento deste tipo de rio ainda assim o sujeito naturalmente imagina a coisa: água, rio. Mas quando eu digo: (2)"Penetrei surdamente no reino das palavras..." ou palavra tem a perna torta, ou (3)"pintei sem lápis a manhã de pernas abertas para o sol" Você não consegue mentalizar uma imagem concreta. Quando há algo desta natureza, que parece ser estranho, é de total precisão que pense, e analise firmemente as palavras, sem alterar nada, da mesma maneira a qual está escrita. Recorrer ao caminho do significado do signo não lhe trará respostas coerentes, precisa-se apelar para o significante, o mesmo lhe proporcionará "coisas" que farão o leitor coisar, e coisar é o barato da coisa; são 5 pés na lua mas 1 pé... tem que ficar no chão, tem que ficar no chão... tem que ficar no chão. Então, a letra exerce uma grafia que tem som, imagem, e pelos princípios do código verbal do português... as letras se somam e formam palavras, que formam frases, que formam parágrafos, que formam textos.

Não existe palavra silenciosa, ela silencia-se até um certo ponto, duradouro ou não, e de repente a inércia castiga-as e ... todas se juntam. Nem mesmo o "pxiiiiii" é silencioso. Logo ainda deve ater-se a morfologia portuguesa, ao caráter científico com experiência mínima de 7 madeiras de ponteiro em (4) Estudo do Cocô do Cupim.

Quanto ao sujeito de olhar virgem, de bom senso, sem pregas, e vulnerável, deve-se desmanter o estado de concretismo (5) "palavra poética tem que chegar a grau de brinquedo pra ser séria" logo a palavra faz a sua parte, o leitor também precisa fazer a sua, precisa deixar-se levar pela palavra, pode ser uma dança muda, uma lagoa careca, um pato à maçaneta, uma lua de costa pro mundo, um verso em seu inverso, ou até mesmo uma pipoca aleijada.

O papel deste sujeito é ser acariciado, agraciado, enamorado pela coisa. E sentir-se assim, ou mei-que-sim, ou mei-que-não, d'antes n'algum lugar , propício ou não, mais tarde ou até mesmo inda'gora da-se o sentido por ato de coisar.
Acho o coisar mais importante que o compromisso ao qual o sujeito pesquisador assume com a coisa, porque coisar é um vírus de alta potência, pode escravizar-se livremente sem bater cartão, e vai no couro do sujeito de olhar virgem.




Pergulhinho chegou a Ozélia uma vez:
- Literatura é aquilo que me extrai respostas sem eu mesmo ter perguntado.
Ozélia respondeu muito bem a Pergulinho.


Matheus Carmo



(1) Referência a frase: "As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis" (Livro das Ignorãças - Manoel de Barros)
(2) "A procura da Poesia" (Carlos Drummond de Andrade)
(3) Retirado de "A Segunda Infância" (Manoel De Barros)
(4) Expressão utilizada nas aulas de Literatura I para realçar o papel do sujeito (Igor Rossoni)

(5) Livro Sobre o Nada, capítulo: 3º parte (Manoel de Barros)

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