quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fratura Memorial


Triste, feio, frustador, e chateador. 
Tive, quando eu era 5º série, um excelente professor que lecionava de à brinca, a matemática. Meio a piadas e palhaçadas, todos os seus alunos, inclusive eu, passamos a adora-lo. Lembro me de quando, em uma manhã, fiz algo de errado na sala de aula (isso era comum), alguma brincadeira trapaceira de bom grau, que fez a aula parar. O silêncio tomou conta dos primeiros minutos até que, aquela clássica pergunta: 'Quem foi o responsável por isso?' Surgiu ,em tom rigoroso, na voz do professor. O silêncio tomava conta outra vez dos primeiros segundos, até que, eu, que estava sentado no fundo da sala de aula, com muito medo pois, a aparência dele ao estar com raiva, assustava, e então, abri minha boca e disse: - Foi eu, professor.
De fato, não recordo-me do eu havia feito, mas, após ter dado aquela resposta, assumindo a peripécia que havia feito, pela terceira vez o silêncio tomava conta da sala de aula. Todos olhavam pra mim, e com muita fixação no olhar,o professor me encarava, e eu a ele, lembro-me bem deste ocorrido.
E apontando o dedo pra mim, antes de qualquer palavra ser anunciada, ele falou algo, que dificilmente acreditei, mas foi algo muito simples, e como o esperado, era receber uma bronca, me passei, e então assim o disse:
- Matheus...você é muito sincero, gostei muito de sua honestidade, mas por favor,... não repita mais isso!
Foi estranho, ninguém acreditou que, aquele professor brincalhão, mas muito rigoroso, acabara de tomar uma atitude dessas comigo, logo eu, que era um 'pimentinha do samba'! O conteúdo da aula, que deveria ser dado continuidade, se esvaiu, e no entanto, o tempo restante da aula, foi em prol de um discurso ao qual o nosso mestre falava a respeito da "Sinceridade" e "Honestidade", se não me engano, ainda levei pra casa alguma notificação no Diário Escolar. Mas a aula, de verdade, tinha ganhado o fim, e em seu discurso, volta e meia mencionava o meu nome.
O bom, é que depois deste dia, eu passei a admira-lo mais ainda e nunca mais fiquei de bobeira com a matemática dele, a pesar da idade naquela época ser pouca, e a maturidade acadêmica, neste período onde fazia a minha 5º série, estava apenas ainda se lapidando, ganhamos o respeito um do outro, nos cumprimentávamos seriamente. Foi mágica a minha mudança da 5º para a 6º série, e este professor, onde não irei dizer o nome, foi bastante responsável por isso.O ano escolar havia acabado, eu estava de férias, e nos seguintes anos, com outro professor para a disciplina de Matemática, nos víamos de às raras.
Quando ele me via pelas ruas, sempre falava, com grande entusiasmo: Matheus, você vai ser um grande músico! Gente boa você.

Triste, feio, frustador, e chateador.

Hoje em dia, depois de muitos anos terem se passados, nos vimos algumas pouquíssimas vezes, nenhuma palavra despertou-se na boca dele, dei um desconto.Mas hoje, justamente hoje, talvez seria a 5º vez que o via, neste legítimo ano, passei muitíssimo próximo dele, os olhares, igual do exato dia em que quase levei uma bronca, se repetiu, tudo em questão de segundos à gelo. Foi nostálgico. Ao passar dele, ainda olhei algumas vezes pra trás, e nada. Nenhuma palavra, nenhum gesto vivo, nenhum sinal de lembrança, partindo dele - Triste, feio, frustador, e chateador. - Talvez eu não tenha tido importância na vida dele, talvez eu fui um aluno esquecido, talvez eu fui só mais um, pois quando essas coisas acontecem (pessoas importantes que entram e marcam, de alguma forma, a sua vida), ficam eternizadas em minha memória, e só de saber que o mesmo, não acontece com todo mundo, passo a ver o livro, que deve ser guardado no canto do esquecimento, como: Triste, feio, frustador, e chateador.


Matheus Carmo

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