domingo, 24 de março de 2013

Post pra Ray

                  Pois que hoje lembrei muito de você, aquela garota da munhequeira do Ramones...ah... essas lembranças só amassam minhas saudades,
e quando me pego saudosista me sinto um frasco de extrato de tomate todo espremido,
com aquelas mãos passando, espremendo mais um pouco, até o fim, pra tirar o último restinho de conteúdo ali dentro.
São 21 cartas guardadas, ainda com cheiro de 8º série, com o valor da minha idade, cheias de ideias, e registros da vida.
Você falava sobre Deus, o mundo, amor familiar, e medo;
Eu falava sobre Deus, o mundo, amor familiar, e Punk Rock
                  Naquela época, tinha composto 4 canções para você, elas basicamente me faziam falar as palavras como se fosse um ditado, igual a Lobão no CD Acústico. Quando eu te mostrei a primeira canção, e falei: É pra você! Ficamos cerca de quase um minuto, só nos olhando, e você cansou de me olhar e lascou-me aquele
beijo, que eu lembro até hoje, jogando-me na cama, e por ali as horas passeavam.
Não nos falávamos na escola, ali era o lugarzinho só de trocar cartas, preferíamos conversar entre quatro paredes, enquanto que meu Windows 95 tocava Ramones, a gente sorria, e conversava, de montão.
                  Você era o tipo de garota que me fazia visitas inusitadas, às vezes só pra dizer: Hoje eu botei um Piercing no mamilo, quer vê?
Era bom também quando a gente se esfregava pela cama, loucos de paixão, tudo ardia, tudo era quente,
e os lençóis absorviam aquele cheiro de vagina de menina-moça, e isso bate uma puta saudade no meu coração. Como eu era tão jovem.
                Eu já sabia que nossa relação iria se esvair, que você iria se mudar pra Aracaju, mas quisemos, na pura coragem, levar até o fim, até o quase-último-dia, e neste período, quando chegava a noite, eu chorava de montão, esfregava meu nariz pelos lençóis, pelas cartas, e saia dando um raio em cada coisa que me fizesse lembrar você.
Prensava-lhe na parede e ah, recordo que tudo que eu te explicava era demonstrado usando alguns galhos achados no chão, da última vez que conversamos sobre nossas vidas, naquela noite de despedida, eu usei eles para fazer você correr e ser prensada na parede, tentar te dar o último beijo, que você rejeitou, e se safou, correndo em direção a sua casa me chamando de "Idiota", em outras palavras, soltando Haduken em meu peito; isso me doía extremamente tanto...
                 Nossas caminhadas às 5 de la tarde, eu te levando até em casa, caminhávamos pelo Bosque Imperial, um olhando o sorriso d'outro, e tudo era tão sadio. Você me deixou tanta saudade que ainda tive o prazer de matá-la, depois de você já ter se mudado,  por umas duas ou três vezes no decorrer dos anos, por essas esquinas de Salvador.
                 Por volta de 2011, cheguei a tentar falar com você, mandar mensagens pra vê se você ainda está viva, adicionar em facebook, e coisa e tal; nesse ano desejei-lhe feliz aniversário, mas você não me respondeu até hoje, não deu nem um 'like' nas minhas felicitações, só ao menos, me aceitou nas redes sociais, isso me entristeceu, porque sei que nas camadas mais insanas, ficou a nossa amizade... ficara.
                Você era a eterna Ray Way, assim que a se chamava. Mas depois me diga: que você já tem muitos anos com o seu namorado, que você está 'felizona', que a graduação acadêmica segue tranquilamente, que ainda continua escrevendo, e que também guarda as minhas cartas, e tal, manda um sinal, de sorriso ou de felicidade, de tristeza ou de estou viva, é só isso que importa.

Para Ray Way



Matheus Carmo
               

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